Durante a seca, a cidade de Brasília torna-se mais bonita da noite para o dia. Isso ocorre graças ao floreamento dos ipês brancos, os mais raros de serem encontrados na cidade. Além de estarem em poucos lugares, o período de floração destas árvores as tornam mais especiais ainda: os ipês brancos exibem suas flores por até, no máximo, quatro dias. Os sortudos encontram as árvores por coincidência na rua e os apaixonados por ipês realizam uma verdadeira caçada para achar e contemplar a beleza pálida desta florada.

A estudante Beatriz Teotônio, 25 anos, aproveitou o último fim de semana para procurar ipês pelo Plano Piloto. “Como eles eram algo que eu sempre via por acaso quando eu saia de casa, eu decidi que queria que eles fossem um pouco mais presentes na minha vida”, explica a estudante sobre a motivação da “caçada” do fim de semana. A procura foi voltada, especialmente, para os ipês brancos. “Quando está na época do ipê amarelo, a gente vê muito nas ruas. Porém, quando está na época dos brancos, a gente vê só alguns e isso torna eles mais mágicos, eles são mais raros e têm uma delicadeza que os outros não têm”, argumenta.

Após mapear os principais pontos em que os ipês estavam floreando através de postagens no Instagram, Beatriz saiu de carro pela Asa Sul e pela Asa Norte fotografando as árvores mais bonitas e documentando os locais onde as encontrou. “Foi muito gostoso. Foi um tempo que eu passei admirando mesmo os ipês. Eu saí de casa, tomei Sol, admirei as flores. Não é todo dia que você pode fazer isso, sair de casa para admirar uma flor”, pontua. “Eu acho que os ipês chamam tanta atenção aqui, porque Brasília não é necessariamente conhecida pela vegetação, ela é conhecida pela arquitetura, pelo urbanismo. Aí quando a gente vê algo na cidade que talvez seja tão chamativo quanto os monumentos e não é algo feito pelo ser humano, é da natureza, eu acho que comove um pouco”, opina.

Pensando em pessoas como Beatriz, que procuram ipês por Brasília, a bióloga Paula Ramos Sicsú criou o aplicativo Ipês, disponível para Android e iOS. “O principal motivo que me fez criar o aplicativo foi a necessidade. Eu gosto muito de admirá-los, de fazer registros deles e eu sentia muita falta de ter um local em que eu pudesse descobrir onde tem ipê, se ele está florido, se está situado em um local de fácil acesso”, explica Paula. O intuito da ferramenta é compartilhar informações sobre as árvores ao redor do Distrito Federal, como floração, localização, para facilitar a visita dos demais cadastrados na plataforma.

No aplicativo, os brasilienses também podem dividir fotos e dicas para os visitantes. “Eu acho que apreciar ipês é um hábito nacional e principalmente local. Então é legal ter um ambiente para centralizar essas informações, um espaço em que todo mundo possa acessar e contribuir para gerar essas informações”, opina. Para a bióloga, a ferramenta é uma forma de ajudar os amantes da espécie mais amada pelos moradores do DF. “É muito evidente que não existe nenhuma outra árvore que suscite o interesse e a mobilização de tantas pessoas, pelo menos aqui em Brasília”, diz.

A exuberância continua

Mesmo com a floração branca, a exuberância e a predominância dos ipês amarelos continua pela cidade. Para Natália Magalhães, 23 anos, os ipês amarelos são os mais bonitos por contrastarem com o céu azul de Brasília. “Eu gosto de apreciar os ipês amarelos há muitos anos e, com o tempo, eu percebi a relação que eles têm com a arquitetura e a beleza de Brasília. Para mim, é até estranho pensar que os ipês não estão presentes em todos os meses do ano, porque eles já parecem fazer parte da cidade”, relata.

Lina Távora, 41 anos, concorda com a evidência dos ipês amarelos. “A cor se destaca muito, porque dá um contraste com a terra vermelha bem característica de Brasília”, avalia. “A cidade fica linda. É interessante, porque na época mais seca, nesse período difícil, o ipê nos mostra que a vida é bonita em todas as formas”, complementa. A paixão da mãe passou para os filhos, Raul, 7 anos, e Alice, 10. “Eu já fiz uma pesquisa sobre ipê para a escola. Nos pediram para estudar sobre uma árvore e eu escolhi o ipê, porque eu acho ele muito bonito. O amarelo é meu preferido”, afirma Raul.