O Brasil foi um dos grandes destaques do FIRST Championship, torneio mundial de robótica que ocorre nos Estados Unidos anualmente com estudantes do ensino fundamental e médio dos cinco continentes. Após quatro dias de competição, com 770 times de mais de 100 países, duas equipes brasileiras que competiram na FIRST LEGO League Challenge (FLL), a Atombot, do SESI de São João del Rei (MG), e a SESI CLP, de Campo Limpo Paulista (SP), ficaram entre as cinco melhores em duas categorias técnicas. Os estudantes mineiros e paulistanos levaram o 1º e o 2º lugares, respectivamente, no prêmio Engenharia de Excelência. Além disso, as duas equipes, que competiram com outros 106 grupos de várias partes do mundo, ficaram em 4º e 5º na categoria Desempenho do Robô.
A Atombot vem trabalhando desde 2013 para chegar ao topo nos Estados Unidos. A equipe mineira acumulou prêmios regionais, nacionais e internacionais, como o de Projeto de Inovação no Open da Austrália de 2019. Segundo Herbert Campos, 16 anos, veterano do time, este ano os integrantes tiveram pouco tempo para se organizar para a disputa, mas, mesmo assim, conseguiram mostrar o suficiente para conquistar o destaque.
“Nessa temporada, tivemos pouco tempo para preparar e traduzir toda a documentação, fazer as modificações que achávamos necessárias no robô e no projeto. Mas mandamos bem na partida e, na avaliação de sala, os juízes foram muito receptivos, conseguimos nos comunicar e passar as mensagens que queríamos”, lembra Hebert, que contou com a ajuda de outras duas premiadas. Julia Meneses, 12, e Estela Terzi, 14 foram reconhecidas por evidenciar os valores da FIRST, como trabalho em equipe, empatia e competição amigável.
Impacto da robótica
A robótica, que vem ganhando cada vez mais destaque na educação brasileira, tem grande aplicação em diversas áreas, desde a produção industrial até atividades domésticas. Desde a Primeira Revolução Industrial, robôs e outros equipamentos são utilizados para aumentar a produtividade das empresas. Agora, com o implemento do 5G e a Internet das Coisas, a robótica será ainda mais necessária, não apenas nas grandes empresas, mas também nas tarefas cotidianas.
Luiz Gabriel Vieira Costa, 21 anos, é estudante de engenharia mecânica na University of South Florida, nos Estados Unidos, e atuou como um dos juízes do mundial na FIRST LEGO League. O brasileiro conta que, quando mudou para o país norte-americano, em 2019, percebeu que os estrangeiros relacionavam muito o Brasil com o futebol, o carnaval e o samba, mas que a robótica ajudou a mudar essa percepção.
“As pessoas veem o Brasil com um país muito bom em relação à robótica, que sempre manda boas equipes e é reconhecido por levar vários prêmios para casa. É muito legal quando o Brasil se destaca nessas competições porque as pessoas começam a enxergar nosso país de outra forma, como um país que tem inovações tecnológicas, que tem muitas pessoas envolvidas nisso”, aponta Luiz.
O estudante de engenharia mecânica está envolvido no universo da robótica desde os 12 anos e, além de estudar nos Estados Unidos, abriu uma startup de educação no Brasil. Ele explica que o impacto da robótica na educação dos mais jovens é maior do que as pessoas imaginam, ultrapassando as questões técnicas, como programação, e habilidades sociais, como liderança e trabalho em equipe.
“O que a robótica me ensinou de mais importante foi essa perspectiva de que tudo que eu aprendia dentro da sala de aula não serviria apenas para uma prova. Eu estava aprendendo aquilo para aplicar e causar um impacto na minha comunidade de alguma forma”, relata.
Luiz ainda destaca que a robótica tem o potencial de preparar os próximos profissionais brasileiros desde muito cedo, fazendo-os perceber que não é preciso esperar os anos pós-faculdade para realizar ações que causam impacto.
“Pessoas que se envolvem com a robótica e têm essa perspectiva, entender que você pode aplicar seu conhecimento desde muito cedo, acho que isso cria pessoas muito mais preparadas para a indústria, para profissões do futuro. Vejo que as pessoas que se envolvem com robótica acabam se preparando mais para o mercado de trabalho”, aponta.
Mais experiência
Além das duas equipes que disputaram o FIRST LEGO League Challenge, o Brasil ainda foi representado por outras duas equipes, uma na modalidade FIRST Tech Challenge (FTC) e outra na FIRST Robotics Competition (FRC). Apesar de ser a menor competição em número de equipes no mundial – a FTC tem 160 e a FRC, 450 –, a FLL é a modalidade presente no maior número de países, ou seja, com maior alcance. O Mundial tem premiação em diversas categorias técnicas e comportamentais. O prêmio principal, Champion’s Award, ficou este ano com uma equipe da Espanha.
A Geartech Canaã 16054, do SESI Canaã em Goiânia (GO), e a Under Control 1156, do Marista de Novo Hamburgo (RS) participaram das modalidades FIRST Tech Challenge (FTC) e FIRST Robotics Competition (FRC), categorias que apresentam robôs maiores, com porte industrial. Ambas já participaram de mundiais anteriores e ostentam diversos prêmios internacionais, mas, desta vez, voltaram dos Estados Unidos com experiências positivas e ideias para as próximas competições.