A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) recomenda a realização do exame de mama a partir dos 40 anos. A orientação é baseada em estudos que mostram que 25% das mulheres brasileiras que terão câncer de mama estarão na faixa etária entre 40 e 49 anos de idade.
Além disso, um estudo canadense, publicado pela revista científica JNCI da Oxford University Press, confirma uma redução média de 40% na mortalidade entre mulheres que fizeram a mamografia a partir dos 40 anos.
No entanto, a cobertura de mamografias no Brasil ainda está abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a SBM, a cobertura média das mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é em torno de 20%, percentual que diminuiu ainda mais durante a pandemia.
Em 2021, foram realizadas pouco mais de 1,6 milhão de mamografias, na faixa etária de 50 a 69 anos, no sistema público; 15% abaixo do habitual. Mas houve uma recuperação em relação a 2020, quando foi registrada uma queda de mais de 40% na realização dos exames de mama.
“A cobertura mamográfica no Brasil é extremamente baixa. Em um país com dimensões continentais, há diferentes dificuldades em todo o território nacional, como equipamentos inoperantes; falta de profissionais capacitados para manuseá-los; equipamentos localizados longe de cidades, com acessos difíceis; entre outras dificuldades, como a própria orientação das pacientes em relação à necessidade de fazê-los e o medo em relação ao exame”, afirma a doutora Paula Saad, mastologista e membro titular da SBM.
A mamografia é um direito da mulher brasileira, estipulado pela Lei n° 11.664/2008. Segundo o Ministério da Saúde, existem cerca de 4,2 mil mamógrafos em uso no SUS, número considerado suficiente para o país. No entanto, a SBM chama a atenção para a má distribuição desses equipamentos, cuja grande maioria está nas grandes cidades e capitais.
Diagnóstico precoce
O Instituto Nacional de Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde, estima 66.280 novos casos de câncer de mama para cada ano do triênio 2020-2022. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), 60% dos casos de câncer de mama no Brasil são diagnosticados em estágio avançado.
O doutor Anderson Silvestrini, oncologista da Rede D’Or, afirma que o exame de mamografia é considerado padrão ouro, por detectar o câncer de mama em mulheres assintomáticas.
“Isso é importante, porque [detectar] esses tumores iniciais de uma doença pré-maligna aumenta a taxa de cura. Aquela mulher que já tem o nódulo palpável vai fazer a mamografia também, mas a chance de ter uma doença mais avançada e que tenha que fazer diversos tratamentos é maior. Então o rastreamento com a mamografia é o padrão ouro para detectar a doença inicial.”
Autoexame
A brasiliense Elizabeth Alves, de 61 anos, descobriu que estava com câncer de mama, a partir do autoexame.
“O meu câncer eu descobri um dia deitada no chão. Levantei os braços e passei a mão em uma dorzinha que eu estava sentindo debaixo do seio direito. Quando eu vi, tinha um nódulo e isso me deixou muito preocupada. No outro dia, eu fui ao médico, que pediu todos os exames e descobriu que eu estava com câncer maligno.”
Segundo a doutora Paula Saad, o autoexame foi idealizado para o autoconhecimento do próprio corpo.
“Nós recomendamos que mulheres a partir dos 20 anos realizem o autoexame. Então, não esqueça de fazer a movimentação dos braços em frente ao espelho, palpar suas duas mamas e terminar fazendo a expressão do mamilo que é quando a gente faz aquela compressão da papila para ver se tem a saída de algum líquido. É de extrema relevância que você conheça o padrão das suas mamas, porque se houver alguma coisa diferente você vai perceber rapidamente.”
A mastologista explica que é normal sentir algumas ondulações, que são naturais da mama, por isso é fundamental conhecer o padrão do próprio corpo, para notar quando algo estiver diferente.
Prevenção ao câncer de mama
A mastologista da SBM Paula Saad recomenda ter um estilo de vida saudável para prevenir o câncer de mama.
“A prevenção do câncer de mama tem que seguir o mote da SBM: quanto antes, melhor, justamente com foco no estilo de vida. Alimentação saudável, sem consumo excessivo de gorduras e álcool; não fumar; praticar exercícios físicos diariamente; controle de peso e ir ao mastologista periodicamente adotando uma rotina de saúde preventiva, uma consciência que ainda falta na saúde pública do Brasil”, orienta.
O oncologista Anderson Silvestrini afirma que a obesidade aumenta o risco de câncer de mama.
“O câncer de mama está relacionado em parte com o ganho de peso e a obesidade. A obesidade traz um processo inflamatório no corpo e leva à transformação de gordura periférica em hormônio feminino e esse hormônio feminino pode estimular as glândulas mamárias a se transformarem em uma neoplasia”, alerta.
Segundo o oncologista, o câncer de mama é multifatorial. “De 5% a 10% [dos casos] tem uma base de mutação genética, que aumenta o risco, e a outra parte tem vários fatores, que vão desde aquela mulher que não teve filhos, que ciclou várias vezes. Essa variação hormonal aumenta o risco. O uso de hormônios como um todo aumenta um pouco o risco também. O tabagismo e a obesidade aumentam um pouco o risco”, explica.