Uma das tradições ainda vivas mais antigas da humanidade, o casamento vai além da união de duas pessoas que se amam. É historicamente associado à religiosidade e à igreja, principalmente a Católica, mas hoje o matrimônio vem se tornando também uma formalidade, um contrato. O Distrito Federal viu um aumento significativo no número de casamentos declarados este ano. De janeiro a agosto deste ano, o crescimento foi de quase 4% em relação ao mesmo período de 2021, com 13.895 matrimônios, segundo os dados apurados pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen).

Se comparados com o auge da pandemia em 2020, quando as celebrações caíram drasticamente e foram registradas 8.937 uniões, o aumento no ano foi de 55,4%. O presidente da Arpen, Gustavo Fiscarelli, apontou que o arrefecimento da pandemia vinha surtindo efeitos no número de matrimônios celebrados desde o ano passado, mas que este ano, com boa parte da população com o esquema vacinal completo, foi possível um aumento mais sensível. No entanto, a atenuação da pandemia não é o único motivo enumerado por Fiscarelli.

Em 27 de junho de 2022, entrou em vigor uma lei que modernizou e simplificou alguns procedimentos de registros civis, entre eles o de casamentos. A nova legislação não só diminuiu os prazos para a solenidade, como também abriu a possibilidade para que fosse feita de maneira remota, seja o juiz distante do casal, quanto o casal distante um do outro. “A lei diminuiu de 15 para cinco dias o prazo do edital de proclamas, que passou a poder ser publicado eletronicamente”, explica Fiscarelli, que também acrescenta que a declaração de união estável também foi facilitada, que pode ser feita diretamente em cartório, de forma mais barata e sem necessidade de escritura pública ou ingresso em juízo.

Crise

Quem tem uma boa visão sobre a quantidade de casamentos celebrados nos últimos anos são os cerimonialistas, profissionais que trabalham tanto nos bastidores do casamento como no dia da cerimônia. Maria Diogo, cerimonialista do Hotel San Marco, lembra que entre 2020 e 2021 os casamentos praticamente pararam em virtude das medidas de restrição impostas pela pandemia de covid-19. Ainda no ano passado, o setor ganhou um pouco de fôlego, mas foi em 2022 que os eventos matrimoniais vieram com mais força.

“De maio para cá, começou a ter mais eventos e maiores. Antes, as cerimônias eram menores, mais intimistas. Isso também foi impacto da crise financeira”, avalia a cerimonialista. Perguntada se a nova lei também impactou o aumento da procura por festas de casamento, ela acredita que sim. “Eu também observo um crescimento na demanda por orçamentos. Geralmente, uma pessoa que pede orçamento comigo está pedindo em vários outros lugares. Então pode ser um aumento generalizado no mercado”, analisa.

Flávia Bernardi também é cerimonialista e percebeu a elevação no número de casamentos durante este ano. “Não foram de contratos novos, mas sim de contratos antigos que foram adiados. Na realidade, houve uma diminuição de novos contratos por conta da crise financeira”, constata Bernardi. Ela também percebe uma expansão nos chamados casamentos por adesão, nos quais os convidados pagam pelo que consomem e os noivos ficam a cargo apenas do bolo e dos bem casados.”Antigamente, casamento por adesão era conhecido por casamento de baixa classe. Agora, está se estendendo a casais de renda média.”

Cerimônias

Carine Santana, 29, e Glauco Moreira, 30, celebraram a união no fim de julho. O noivado foi em dezembro de 2021 e a intenção era de que a cerimônia fosse mais para o fim do ano. “Mas a agenda de todos os espaços que procuramos estavam cheias, porque muitos casais estavam adiando para o fim do ano por medo de uma nova onda da pandemia. Em todos os contratos tinham cláusulas de remarcação caso acontecesse alta de contaminações”, lembra Carine, que também relata uma alta nos preços dos fornecedores.

Junto à mãe, Carine toca uma empresa de sandálias rasteirinhas, tradicionalmente oferecidas como brinde em festas de casamento. Ela afirma que o aumento de demanda veio ser sentido agora em setembro, mas que no início do ano foi muito difícil em relação à escassez de encomendas. “E muito do que a gente teve ano passado, foram de pessoas que tinham fechado em 2020 e remarcaram para 2021. Teve uma noiva que ficou com as rasteirinhas guardadas por um ano até a chegada do dia do casamento”.

A empresária deu entrada nos papéis pouco antes da promulgação da nova lei que simplifica a declaração de casamento. Ela disse que se soubesse que em breve haveria uma nova legislação, teria esperado. “Se fosse para facilitar, com certeza. Porque tivemos que ir ao cartório 30 dias antes, esperar mais 15 para eles ligarem para a gente finalmente ir lá e assinar a documentação com o juiz de paz”.

Planejar a festividade com antecedência pode ajudar a não ter surpresas. Bruna Lopes Nobre de Castro, 27, e Vítor Barata de Castro, 29, casaram-se em 17 de setembro. Ela conta que não teve dificuldades para achar o local da celebração, mas foi preciso marcar com um ano de antecedência. “Mas lembro que a agenda do local para o primeiro semestre estava cheia por causa da demanda represada da pandemia”, lembra a fisioterapeuta.

Ela também conta que o espaço estava fazendo eventos fora do final de semana para conseguir dar conta da fila. Assim como Carine e Glauco, os recém-casados também tiveram dificuldades com os fornecedores. Muitos já não conseguiam atendê-los na data da festa.