A rotina corrida e o ritmo de vida cada vez mais acelerado podem prejudicar os cuidados com nossos hábitos alimentares e a nossa saúde. Na ânsia de cumprir todas as suas tarefas, muitas pessoas comem “o que veem pela frente”, de forma inconsciente e desconectada com o corpo e suas necessidades. Com isso, as refeições são feitas de forma inadequada, sem prezar pela nutrição e pelo bem-estar dos nossos corpos.
Para Sophie Deram, engenheira agrônoma de AgroParisTech (Paris), nutricionista franco-brasileira e doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e autora do livro recém-lançado “Os 7 pilares da saúde alimentar”, “rever seus hábitos alimentares pode ser uma grande oportunidade para refletir sobre a saúde, o cotidiano e as experiências relacionadas à comida”, diz.
Além de nutricionista, Deram também é especialista em tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM – Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP e autora do livro “O peso das dietas”, lançado em 2018. No novo livro, Deram ensina a comer sem neura, de maneira simples e didática, com ferramentas práticas que podem ser inseridas na rotina de qualquer pessoa para conquistar hábitos alimentares e de vida mais saudáveis.
Para ajudar os leitores a superar de vez as dificuldades em manter uma alimentação balanceada, Sophie apresenta em sua nova obra os sete pilares para cada um ressignificar sua relação com o alimento, deixando de lado as “dietas da moda” e os ultrapassados cardápios restritivos. Confira:
7 passos fáceis e práticos para mudar seu hábitos alimentares
1. Faça as pazes com o seu corpo
A PhD em Nutrição explica que é muito importante aceitar o próprio corpo para conseguir mudar os hábitos alimentares. Na visão de Sophie, essa transformação só acontece quando se está mais em paz consigo mesmo, pois a saúde não pode ser mensurada em quantos quilos alguém pesa ou por meio de um comparativo em relação a um outro indivíduo.
“As pessoas não podem deixar, por exemplo, de praticar algum esporte ou atividade de lazer porque se incomodam com o próprio corpo. Assumir seu corpo é o primeiro passo para ser bem resolvido e deixar de lado a culpa e a não-aceitação”, ensina. Para a especialista, conectar-se com o organismo é essencial para escutar os sinais enviados por ele – como o cansaço, a fome, a saciedade ou a sede. “Seu corpo é a sua casa, o veículo que leva você aonde quiser ir. Ou seja, sua companhia em todas as ocasiões. Por isso, é fundamental cuidar bem dele”, afirma.
2. Cuide do seu cérebro; ele controla tudo
O cérebro é o “chefe” do seu corpo. A partir dessa premissa, Sophie esclarece que o estresse do indivíduo aumenta quando ele força o seu organismo a procurar um caminho “não correto”, como a privação de se alimentar em meio à fome. Mesmo assim, muitos insistem em buscar dietas radicais que, para piorar, afetam a autoestima e a confiança.
“O cérebro tem memória. Por esse motivo, ele passa a não permitir, a partir de um momento, que a pessoa suporte às restrições depois de algum tempo de dieta. Por isso, cada indivíduo deve desenvolver habilidades para lidar com as emoções. Sabe o que (o cérebro) mais quer? Saúde, bem-estar e paz”, completa a nutricionista.
3. Pense sustentável; não tenha pressa
O lema “foco, força e fé” tem sido propagado em vários lugares pela indústria do emagrecimento como forma de vender alimentos, dietas e suplementos milagrosos que proporcionem perda rápida do peso não sustentáveis. No entanto, o caminho para alcançar esta meta e, ao mesmo tempo, manter a saúde vai muito mais além, detalha Sophie.
“Não acredite em dietas instantâneas, pois não existe nenhum cardápio ou alimento milagroso. Mudanças drásticas não costumam levar a resultados sustentáveis”, alerta. A especialista salienta que emagrecer de forma saudável e duradoura faz parte de um processo de entendimento com seu corpo, e de como ele funciona. A partir daí, é possível traçar metas realistas para perda de peso e mudança de hábitos
“É muito importante dar tempo para o corpo se adaptar às novidades. É possível que se enfrente frustrações e tenha um sentimento de desânimo. É importante estar preparado para isso, e ter paciência com o nosso corpo e a nossa mente quando se fala de perda de peso”, avalia.
4. Respeite sua fome e viva no presente
O costume de seguir de forma rígida as regras de alimentação – como comer a cada três horas – confunde a comunicação entre o cérebro e o corpo. A especialista alerta que essa prática atrapalha a percepção de saciedade e fome. “Não sabemos mais se estamos comendo ou deixando de comer porque ouvimos ou lemos por aí que essa é a coisa certa a fazer ou porque o corpo está pedindo. Passamos a nos alimentar de forma automatizada”, diz.
Sophie orienta que é preciso prestar atenção no que se sente na hora de comer, pois pode ser fome de fato ou apenas uma vontade de determinado alimento. Para ela, o cérebro da pessoa fica ainda mais “obcecado” por comer à medida em que se faz mais dietas. Consequentemente, há mais risco de desenvolver o que ela chama de “fome emocional”.
“A pessoa acaba comendo por outros motivos, como a tristeza, a ansiedade e até mesmo o tédio. Ou seja, não é por fome de verdade ou por vontade. Isso sim leva ao ganho de peso”, afirma a especialista. Sophie enfatiza ainda que o indivíduo precisa se sentir nutrido, saborear e prestar atenção na comida consumida. “É algo importante, esse momento precisa ser vivido em paz”.
5. Coma melhor, não menos! Faça as pazes com os alimentos
Ao se alimentar, não é necessário se preocupar em contar calorias, ou se culpar por repetir o prato. Além disso, a PhD em Nutrição também defende que não existe alimento bom ou ruim. Ela sugere para a pessoa não se importar tanto com as propriedades nutricionais dos alimentos ou se engordam e fazem mal à saúde.
“Não se deveria deixar de comer alguma coisa por medo de engordar ou pela culpa. A sugestão é comer de tudo, mas não tudo! É preciso incluir mais alimentos de origem natural, mais comida fresca e caseira, com bastante variedade e qualidade”, pondera. Sophie ressalta que o indivíduo pode se permitir experimentar novos sabores, fazendo um “mix” de alimentos saudáveis, mas sem deixar de fora o que gosta de comer. A ideia do prato colorido é interessante para uma boa alimentação.
6.Alimente-se de outras energias
Descobrir fontes de prazer que proporcionem bem-estar e ajudem a desviar o foco da comida durante a rotina também é uma excelente pedida, na avaliação da especialista. Sophie ensina que é necessário conciliar exercícios físicos, uma boa alimentação e uma boa noite de sono.
“Pergunte a si mesmo se há a sensação de cansaço durante o dia ou se não seria interessante começar algum tipo de atividade que ajude a relaxar e conectar-se consigo mesmo”, sugere. Para a especialista, movimentar o corpo é a chave para ter mais disposição no dia a dia e melhorar a saúde.
7. Cozinhe e celebre a comida
Ganhar qualidade na alimentação é algo muito possível quando se prepara uma comida mais caseira. Sophie detalha que envolver-se em cada etapa desse verdadeiro ritual é uma opção para reinventar sua relação com a comida. Para isso, a pessoa precisa se dedicar desde a compra dos ingredientes até o momento de se sentar à mesa.
“Assim, a pessoa tende a comer mais alimentos frescos e menos industrializados, e também ganha autoconfiança e autoconhecimento”, avalia. Sophie diz ainda que cozinhar é uma ótima maneira de fortalecer os vínculos familiares e sociais, e fazer as refeições juntos podem ajudar a comer melhor. “O indivíduo passa a prestar mais atenção nas sensações de fome e saciedade”, conta.
A especialista sugere ainda para a pessoa se planejar no dia a dia e, dessa forma, entrar nessa dinâmica regular de ir para a cozinha preparar aquilo que come. “A relação com o alimento se transformará por completo, de forma muito positiva. É comprovado que quem cozinha se alimenta melhor, com itens mais saudáveis por serem feitos em casa, e acaba saboreando e tendo mais prazer com cada refeição”.
Colaboração: Sophie Deram