Junho é mês de conscientização do lipedema. No mundo, 10% das mulheres são acometidas pela doença caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura no corpo. A estimativa é do Instituto Lipedema Brasil.

Mais de 10 milhões de brasileiras podem ter lipedema e não sabem, segundo dados do Instituto Lipedema Brasil. No mundo, 10% das mulheres são acometidas pela doença — caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura no corpo, em especial, nas pernas. A enfermidade também provoca dor, inchaço, hematomas e sensação de peso nos membros inferiores.

A cirurgiã vascular e membra da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), Cristienne Souza, explica que a condição crônica é pouco conhecida e o diagnóstico é essencialmente clínico. Ela aponta que o lipedema não é causado por excesso de peso — e há um fator característico para o diagnóstico.

“Ele tem uma peculiaridade que é preservar pés e mãos, ou seja, geralmente esse acúmulo de gordura não acontece nos pés e nas mãos — o que pode ajudar a diferenciar de outras comorbidades como, por exemplo, obesidade e sobrepeso”, destaca a cirurgiã. 

Junho é mês de conscientização do lipedema. E chama atenção para o diagnóstico precoce e incentiva hábitos saudáveis. Na avaliação da especialista, a paciente diagnosticada precocemente pode frear a evolução da doença.

“Vai impedir o desenvolvimento dessa doença para as fases mais avançadas nas quais já tem uma certa limitação da capacidade funcional desses pacientes. E elas devem, a partir do diagnóstico, fazer um acompanhamento médico com o especialista”, diz. 

Diagnóstico e tratamento

O lipedema não tem cura e prejudica a qualidade de vida das mulheres, por exemplo, com a perda de peso — mesmo com atividade física constante aliada à boa alimentação. 

A saúde mental e psicológica das pacientes também pode ser acometida, como relata a empresária Grasiele Toledo, 36 anos, moradora de Arapongas (PR), diagnosticada em 2022. Há seis meses passou por uma cirurgia que mudou a sua qualidade de vida, mas conta as dificuldades enfrentadas. 

“O Lipedema mexe muito com o psicológico da pessoa e frustra um pouco a mulher, porque a gente tenta de todas as formas melhorar e é muito difícil ver melhora. As dietas, exercícios físicos, melhoram as dores, mas a gente vê que o tamanho da perna não diminui e o aspecto casca de laranja também não sai por inteiro”, expõe Grasiele.

O tratamento é contínuo e demanda dieta focada em alimentos anti-inflamatórios. A especialista Cristienne Souza orienta a busca por acompanhamento nutricional para auxiliar na perda de peso, além de atividades físicas regulares. Drenagem linfática e uso de compressão elástica também são indicados.

Moradora da cidade do Rio de Janeiro, a enfermeira Janaína Ponciana, 38 anos, realizou uma bariátrica em 2018. Porém, com exercícios físicos regulares, a perna não acompanhou o processo de emagrecimento. Em 2022 veio o diagnóstico de lipedema.

Janaína faz o chamado tratamento conservador, sem recorrer a medicamentos ou cirurgia, e relata melhora na qualidade de vida a partir da alimentação e da atividade física. Segundo ela, o tratamento é essencial em sua melhora. “Se eu passar por alguma situação de estresse ou comer algo que me inflama eu sinto dores. Isso é fato”, relata Janaína.

“Tenho dor nas pernas e muito inchaço. Por exemplo, eu pesei de manhã, 75 quilos, vou para o plantão, volto à noite, estou com 78. As pernas doem e sinto dor de não conseguir dormir de lado, e fica quente”, conta a enfermeira.

Sinais de alerta

O lipedema pode acometer mulheres em fases como a puberdade, por isso é importante se atentar aos sinais. Confira os sintomas mais comuns:

  • dor e a sensibilidade ao toque nas áreas afetadas
  • facilidade em desenvolver hematomas, 
  • uma sensação de peso e desconforto nas extremidades
  • dificuldade em perder peso na áreas afetadas
  • alteração na textura da pele
  • complicações associadas, como redução da mobilidade dificuldade em realizar atividades diárias

Progressão da doença

Segundo o Instituto Lipedema Brasil, o diagnóstico precoce colabora para evitar a progressão da doença ao longo dos anos — que é dividida em quatro estágios.

Estágio I – Pele com aparência normal e subcutâneo em forma de nódulos palpáveis. Drenagens e alimentação regrada podem aliviar alguns dos sintomas.

Estágio II – Apresenta pele irregular e endurecida, com acúmulo de gordura em forma de nódulos, e pode apresentar dores. E hematomas são frequentes.

Estágio III – Grande acúmulo de gordura, com deformidades da pele. Estágio em que dores e hematomas são frequentes.

Estágio IV – Pele com grandes deformidades e gordura associada à lesão do sistema linfático, causando edema nos pés. As dores são fortes na maioria dos casos e há dificuldade de deambular. Hematomas frequentes. 
 

Fonte: Brasil 61