A pandemia do novo coronavírus provocou uma queda recorde na produção industrial brasileira em abril. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção da indústria nacional despencou 18,8% em relação a março, quando o indicador já havia recuado 9,1%. O baque foi ainda maior em relação ao mesmo mês do ano passado: 27,2%.

A Pesquisa Industrial Mensal (PIM) foi divulgada, nesta quarta-feira (3/6), pelo IBGE e mostra o impacto da covid-19 na indústria brasileira. Afinal, muitas fábricas passaram praticamente todo o mês de abril fechadas devido às medidas de distanciamento social necessárias à prevenção do coronavírus. O setor ainda foi afetado negativamente pela redução do consumo das famílias nesse período de quarentena.

“O resultado de abril decorre, claramente, do número maior de paralisações das várias unidades produtivas, em diversos segmentos industriais, por conta da pandemia”, disse o gerente da pesquisa, André Macedo, contando que, por isso, a PIM de abril revelou os piores resultados de toda a série histórica. Ou seja, foi o mês de pior desempenho da indústria brasileira desde 2002.

Ainda segundo o IBGE, esse comportamento recessivo atingiu praticamente todos os ramos industriais brasileiros. “Em abril, vemos um espalhamento, com quedas de magnitudes históricas, de dois dígitos, em todas as categorias econômicas e em 22 das 26 atividades pesquisadas”, revelou Macedo.

Bens de consumo duráveis

O principal fator negativo veio, contudo, dos bens de consumo duráveis, que são vistos como supérfluos por muitos consumidores nesse momento de pandemia e, por isso, tiveram a compra postergada. O setor registrou um tombo recorde de 79,6%, influenciado principalmente pela retração de 88,5% da produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, que já havia contraído 28% em março.

Também foram identificados recuos significativos, contudo, na produção de outros equipamentos de transporte (-76,3%), artigos de couro, apara viagem e calçados (-48,8%), produtos têxteis (-38,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,5%), bebidas (-37,6%), móveis (-36,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-33,8%), máquinas e equipamentos (-30,8%), metalurgia (-28,8%), produtos de metal (-26,8%), produtos de minerais não-metálicos (-26,4%), produtos eletrônicos e ópticos (-26,0%), produtos de borracha e de material plástico (-25,8%) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-18,4%). Por isso, também houve quedas nos segmentos de bens de capital (-41,5%), bens de consumo (-26,1%), bens intermediários (-14,8%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-12,4%).

Só quem escapou do vermelho foi, portanto, a produção de bens essenciais, que continuam sendo consumidos normalmente na quarentena. Isto é, a produção de alimentos, de produtos farmoquímicos e farmacêuticos e de produtos de limpeza, que cresceram 3,3%, 6,6% e 1,3%, respectivamente. Já as indústrias extrativas tiveram um resultado estável (0%). “Embora o impacto positivo dos alimentos tenha vindo, principalmente, da maior produção do açúcar, observamos aumentos também na produção de outros gêneros alimentícios necessários para as famílias, como leite em pó, massas, carnes e arroz”, comentou o gerente da pesquisa.

Expectativa

Com a pandemia da covid-19, a situação da indústria brasileira ficou tão delicada que boa parte dos economistas esperavam até um recuo maior em abril. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), por exemplo, projetava uma queda de 27,3% na comparação com março e de 35,4% ante abril de 2019. Ainda assim, o tombo foi tão profundo que já consumiu todos os resultados positivos registrados pelo setor antes da pandemia. Ainda de acordo com o IBGE, no ano, a indústria já acumula uma queda de 8,2%. No acumulado dos últimos 12 meses, o recuo é de 2,9%.