Cinquenta e sete por cento dos brasileiros acreditam que os jovens que concluem o ensino médio saem pouco preparados ou despreparados para o ensino superior e o mercado de trabalho. É o que mostra um levantamento publicado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi) nesta segunda-feira (6).
A pesquisa aponta que, para apenas 13% das pessoas entrevistadas, os estudantes que completam o ensino médio entram bem preparados para os desafios da faculdade. Quando o assunto é estar pronto adequadamente para o mercado de trabalho, esse percentual sobe para 14%.
Catarina de Almeida Santos, especialista em educação, explica que a percepção dos entrevistados encontra respaldo na realidade. Para ela, as causas do baixo aprendizado, em geral, dos alunos que concluem o ensino médio não têm a ver apenas com a própria etapa de educação em questão.
“Os estudantes estão chegando ao ensino superior com formação inadequada. Isso reflete, inclusive, a falta de qualidade da educação básica, que tem a ver com os currículos, com as condições da população, com a condição das escolas, com a superlotação das turmas, com a formação dos professores. Temos um cenário que faz com que eles cheguem sem preparação no ensino superior. Se eles não estão chegando com preparação no ensino superior, imagina se vão conseguir ingressar no mercado de trabalho com essa formação, que não é só resultante do ensino médio”, avalia.
O problema começa já nos primeiros anos da educação básica, desde a educação infantil até os primeiros anos do ensino fundamental, período que compreende o que deveria ser a alfabetização dos estudantes. “Temos todo um processo a ser melhorado na educação básica, que não adianta olhar só para o ensino médio, mas para todo o processo, para que eles cheguem bem ao ensino médio, com a base que você tem a partir dos anos iniciais e contínua.”
Entre todos os níveis de ensino, foi justamente o ensino médio um dos que mais gerou desconfiança nos entrevistados. Quando os pesquisadores pediram aos participantes que classificassem como “ótima”, “boa”, “regular”, “ruim” ou “péssima” cada uma das etapas de educação, a fase de alfabetização foi avaliada como ruim ou péssima por uma em cada cinco pessoas.
Em seguida, veio o ensino médio, que registrou 14% de avaliações negativas. Por outro lado, a qualidade do ensino técnico/profissionalizante foi tida como ruim ou péssima por 8% das pessoas, o melhor desempenho entre todas as etapas de ensino. Ao lado da creche, foi a etapa que mais recebeu avaliações positivas, tendo sido classificada como “boa ou ótima” por 55% da população.
Para a especialista, é preciso olhar os números com cautela, porque algumas conclusões precisam de contextualização, por exemplo, no caso das instituições voltadas às crianças menores, cujas famílias dependem da escola para poder trabalhar. “Quando as pessoas estão avaliando a qualidade da creche elas estão, na verdade, avaliando a oferta de creche, se tem creche”, analisa.
Amostra
A pesquisa “Educação e opinião pública” foi conduzida pela FSB Comunicação. Além de pedir uma avaliação da população sobre a qualidade da educação, o levantamento ouviu os brasileiros sobre o Novo Ensino Médio. A pesquisa ouviu 2.007 cidadãos com idade a partir de 16 anos, nos 26 estados e no Distrito Federal. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.
Modelo para o Novo Ensino Médio
O Sesi desenvolveu um modelo de referência, que traz mudanças estruturais, na metodologia educacional e na gestão escolar. As escolas Sesi de Referência têm o objetivo de dar mais autonomia e protagonismo aos alunos no processo de aprendizagem e direcionamento profissional.
Ao todo, 24 estados participam do projeto com cerca de 40 escolas de referência. A proposta pedagógica das escolas Sesi de Referência segue as diretrizes do Novo Ensino Médio, baseada no movimento STEAM – Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática.
“A gente está buscando atualizar o conceito de escola. Qual é essa escola do futuro? Quais são os atributos que uma escola precisa ter hoje para que a gente possa desenvolver todas as potencialidades dos estudantes? Foi pensada essa escola, que nasceu para que possa ser disseminada, respeitando as peculiaridades locais, mas ter um padrão de ensino conectado com essas responsabilidades e possibilidade do século XXI”, explica Paulo Mol, diretor de Operações do Sesi Nacional.