Durante 101 dias, a taxa de transmissão da covid-19 permaneceu sob controle no Distrito Federal. Porém, desde terça-feira, o índice voltou a ficar acima de 1 — nível que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), significa que o contágio do vírus está descontrolado. Ontem, a taxa de transmissão bateu 1,04 — o número demonstra que um grupo de 100 pessoas podem contagiar outras 104 no DF.

Apesar de especialistas alertarem que a pandemia causada pelo novo coronavírus ainda não acabou, não se fala tanto em vacinação e prevenção contra a doença como no início da campanha de imunização. A Secretaria de Saúde (SES-DF) destacou que mais de um milhão de pessoas não retornaram para o primeiro reforço da vacinação e, por isso, o cenário cria uma preocupação para o fim de ano na cidade — festas, viagens e o aumento de pessoas transitando no aeroporto de Brasília. Com o alerta para uma possível nova onda de casos, a pasta informou que vai reforçar as unidades básicas de saúde (UBS) para testagem e vacinação contra a covid neste sábado.

Além disso, o órgão informou que a busca ativa por pessoas que não receberam imunizante vai ocorrer amanhã por meio de carros da vacina. Os pontos onde o veículo vai percorrer e a lista completa das UBSs em funcionamento serão divulgados nesta hoje, no site da secretaria. Ainda de acordo com a SES-DF, qualquer pessoa que apresente sintomas gripais precisa ir às UBSs realizar o teste, para fazer o isolamento correto e não contaminar aqueles que possuem comorbidades.

Na noite de ontem, o Correio foi até a UBS1, na Asa Sul, para acompanhar o ritmo da vacinação contra a covid-19. Apesar da baixa procura, a recém-chegada da Suíça Lúcia Treccani, 63 anos, aproveitou para tomar a segunda dose de reforço (quarta dose) do imunizante. “Na Europa consegui tomar as três doses, mas a quarta aplicação ainda não estava disponível para minha idade. Como aqui é mais fácil e está aberto ao público, aproveitei para vir tomar logo”, ressaltou.

Oscilação

Para Breno Adaid, pesquisador do Centro Universitário Iesb e pós-doutor em ciência do comportamento pela Universidade de Brasília (UnB), a oscilação da taxa é considerada normal. “Pois o número de casos está muito baixo. Desta forma, qualquer variação — mesmo que pequena — vai mostrar um número acima de 1,0”, explica. O especialista comenta que o esperado é que a taxa de transmissão se mantenha em torno de 1,0 — oscilando um pouco para baixo e para cima.

“Ocorrendo isso, continuaremos com baixos números de casos. O que não pode acontecer, e precisa ser observado pelas autoridades, são índices cada vez maiores a cada dia, com progressão mais acentuada nos números”, alerta. Breno Adaid afirma que existem relatos de uma nova variante (BA.4) no Reino Unido, com grande capacidade de driblar as defesas da vacina, facilitando o contágio e os números podem sofrer um aumento. “Mas a notícia boa é que o imunizante continua sendo eficaz contra os piores quadros, oferecendo proteção para o mais importante, que é preservar a vida.”

Números

Atualmente, o DF está vacinando pessoas acima dos 3 anos de idade, segundo a SES-DF. Em relação aos reforços, pessoas acima de 12 anos que completaram o ciclo vacinal (duas doses), estão aptas a receber uma dose extra — quatro meses após terem tomado fechado o ciclo —, enquanto maiores de 40 anos podem procurar os postos para tomarem duas doses de reforço, também com intervalo de quatro meses entre as vacinas.

Até a noite de ontem, 7.080.954 imunizantes contra o novo coronavírus foram aplicados durante toda a campanha, de acordo com o portal da Secretaria de Saúde que atualiza os números diariamente. Da população apta a ser vacinada (2.925.343), 88,23% tomaram a primeira dose ou dose única e 84.19% estão com o ciclo vacinal completo — segunda dose ou dose única.

Vacinação contra a pólio tem baixa adesão

 (crédito:  Fernando Frazão/Agência Brasil)crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

Iniciada em 8 de agosto, a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite está com baixa adesão no DF. Diante disso, a Secretaria de Saúde (SES-DF) decidiu prorrogar a campanha até o dia 28 deste mês. Até o momento, 69.724 doses do imunizante foram aplicadas em toda a capital do país, segundo a pasta — número que representa apenas 43,5% das crianças que são público-alvo (160.292).

Ainda de acordo com o órgão de saúde, a campanha contra a poliomielite visa vacinar, de forma indiscriminada, crianças de 1 ano a menores de 5 anos de idade que tenham recebido o esquema primário — de três doses. Até ontem no DF, a faixa etária que que estava com a cobertura vacinal mais avançada era a de 1 ano, com 46,1%, enquanto a mais atrasada era a de 2 anos (39,52%).

Com receio de uma doença que pode desencadear a paralisia infantil, Almir Velez, 40, levou a filha recém-nascida, Natalia Velez, de 1 ano, para tomar o imunizante no começo da campanha, na Unidade Básica de Saúde 3 do Guará. Para ele, a saúde dos filhos vem em primeiro lugar. “Eu cresci em um lar onde todos os meses a gente tomava as vacinas necessárias. Atualmente nós vemos essa onde de negação, e eu não entendo o porquê. Levei minha filha de 1 ano e 3 meses para receber o imunizante no começo da campanha. Quero que ela fique bem e cheia de saúde, isso é o que mais importa”, disse Almir.

Alto contágio

Infectologista do Hospital Brasília, Ana Helena Germoglio lembra que a poliomielite é uma doença infecciosa aguda, altamente contagiosa, e é causada por um vírus que vive no intestino. “Na grande maioria dos casos, afeta crianças menores de quatro anos. Em cerca de 1% dos infectados, pode desenvolver a forma paralítica da doença, que pode deixar sequelas permanentes, levar a insuficiência respiratória e, em alguns casos, até ao óbito”, alerta.

A especialista destaca que uma pessoa pode transmitir o vírus diretamente para outra, principalmente quando se leva à boca algum material contaminado com fezes. “Por isso, as condições de saneamento e higiene são importantes na sua prevenção”, reforça.

A infectologista destaca que, apesar dos esforços para a erradicação da doença, alguns países ainda têm crianças com paralisia infantil. “Então, até que a pólio seja erradicada do mundo, existe o risco da doença voltar no Brasil, o que faz com que a cobertura vacinal alta seja nosso maior protetor contra a importação do vírus selvagem”, frisa. “Assim, o maior recado para os pais é que, para qualquer doença que pode ser evitada pela imunização, sempre compensa investir em prevenção.”