Com o retorno das chuvas ao Distrito Federal, os raios também voltam a preocupar os brasilienses. Dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (ELAT/INPE) apontam que o Brasil é o país com a maior incidência de raios do mundo, com uma média anual de 78 milhões de descargas atingindo o solo.
No DF, só nos dois primeiros meses de 2025, foram registrados 18.148 raios, sendo 16.233 em janeiro e 1.915 em fevereiro. Em 2023, mais de 77 mil raios foram registrados e, no ano seguinte, o número subiu para 96.365 descargas elétricas, conforme o ELAT.
As consequências dessas descargas vão muito além do espetáculo visual. Todos os anos, cerca de 113 pessoas morrem e 500 ficam feridas por raios no país, o que representa uma em cada 50 mortes por raio no mundo. A maioria das vítimas é atingida por correntes indiretas, que vêm do solo, já que os impactos diretos são raros e geralmente fatais.
Os efeitos atingem animais e o meio ambiente. Em áreas rurais, rebanhos expostos correm risco de morte, principalmente quando próximos a cercas metálicas. No Cerrado, os raios podem causar queimadas que ameaçam a fauna e a flora, apesar de eles cumprirem um papel ecológico natural, ajudando na renovação da vegetação de um bioma adaptado ao fogo, desde que o ciclo de incêndios seja controlado e espaçado.
Riscos
O Grupo de Eletricidade Atmosférica esclarece que os raios são descargas elétricas que ocorrem na atmosfera e chegam a atingir intensidade de 20 mil ampères, o equivalente a cerca de mil vezes a potência de um chuveiro elétrico.
Eles podem ser ascendentes, quando partem do solo em direção à tempestade, ou descendente, quando desce da nuvem até o solo. Em geral, o fenômeno é acompanhado por um clarão e, logo depois, pelo som do trovão, causado pelo deslocamento de ar aquecido rapidamente pela descarga, que pode percorrer distâncias de até cinco quilômetros e alcançar intensidades ainda maiores, chegando a 30 mil ampères.
“O trovão, embora não ofereça perigo direto, é resultado da expansão brusca do ar e pode gerar deslocamentos de vento suficientemente fortes para derrubar pessoas ou causar ferimentos em situações extremas”, alerta o ELAT.
A probabilidade de uma pessoa ser atingida diretamente por um raio é considerada baixa, menos de uma em um milhão, mas o risco aumenta em áreas abertas e durante tempestades intensas. Na maioria dos casos, as vítimas não são atingidas diretamente pela descarga e, sim, pelos efeitos indiretos, como correntes que se propagam pelo solo ou objetos metálicos que conduzem eletricidade.
Os impactos podem variar desde queimaduras e paradas cardíacas até sequelas físicas e psicológicas duradouras. A gravidade depende da intensidade da corrente, da área do corpo atingida e das condições de saúde da vítima. Além de colocar vidas em risco, os raios podem provocar incêndios, quedas de energia e danos em sistemas elétricos e eletrônicos, afetando também o funcionamento de serviços e estruturas urbanas.
Recomendações
O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal reforça que a segurança da população depende de atenção redobrada durante o período de chuvas e de tempestades. “Ao se deparar com fios caídos, alagamentos ou deslizamentos, nunca se deve tocar nos cabos ou tentar removê-los, pois a eletricidade pode se propagar a metros de distância. Nesses casos, é fundamental isolar a área e acionar imediatamente o Corpo de Bombeiros e a concessionária de energia”, assinala a corporação.
Locais sem proteção adequada contra raios, como celeiros, tendas, barracos e veículos sem cobertura, oferecem risco elevado durante tempestades, assim como áreas abertas, campos de futebol, quadras, estacionamentos, topos de morros ou prédios, cercas de arame, varais metálicos, linhas elétricas aéreas e trilhos. Permanecer em piscinas ou abrigar-se sob árvores isoladas também aumenta a probabilidade de acidentes, segundo o CBMDF.
Além disso, alagamentos e deslizamentos representam ameaças graves. “Caminhar ou dirigir em ruas inundadas deve ser evitado, pois a correnteza pode arrastar pessoas e veículos em segundos. Em casos de deslizamentos, é necessário manter distância e não tentar remover terra ou entulho, nem retornar a residências afetadas sem autorização das autoridades”, destacam os bombeiros.
A corporação orienta que o motorista, diante de uma enxurrada, deve interromper o trajeto e buscar uma rota alternativa. “Se o veículo for atingido pela água, o mais seguro é abandoná-lo e procurar um local mais alto, sem tentar salvar pertences. Caso o motorista fique ilhado e o nível da água continue subindo, é fundamental acionar o Corpo de Bombeiros, informando o local exato e as condições do ambiente.”
A Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil do DF também reforça que, antes das chuvas, a população deve adotar cuidados básicos para reduzir os riscos. A poda ou corte de árvores com risco de queda próximas a residências deve ser solicitada junto à Administração Regional ou ao Corpo de Bombeiros.
“Telhados têm de ser vistoriados, substituindo telhas quebradas, reforçando pregos e madeiras e isolando a fiação elétrica. Durante as chuvas, se houver aumento do nível da água, a família deve se deslocar para locais seguros. Quem estiver ao ar livre deve procurar abrigo longe de árvores, que atraem raios e podem ter galhos desprendidos pela ventania”, orienta a Defesa Civil.
Após as tempestades, é essencial redobrar a atenção. “A água destinada ao consumo deve ser verificada para garantir que não foi contaminada por enchentes, prevenindo riscos à saúde. Equipamentos elétricos molhados ou localizados em áreas alagadas não devem ser utilizados, pois oferecem perigo de choque ou curto-circuito.”
Proteção
O engenheiro eletricista Thiago Starck explica que o raio pode causar danos a pessoas, animais, edificações e eletrodomésticos. A prioridade máxima é sempre proteger a vida humana e, para isso, os locais mais seguros durante uma tempestade são ambientes cobertos, como shoppings, mercados e construções fechadas, enquanto os piores lugares são a céu aberto, debaixo de árvores ou próximo a postes.
“No caso das edificações, a necessidade de instalar um para-raios deve ser avaliada por um engenheiro eletricista, que realiza um estudo detalhado do imóvel e de seus arredores, identificando se a área tem potencial para atrair descargas elétricas e calculando a incidência de raios na região”, explica o especialista.
De acordo com ele, essa análise é válida tanto para casas quanto para prédios. “O Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas, conhecido como SPDA, funciona criando pontos preferenciais de incidência para os raios, evitando que a estrutura seja atingida diretamente. Esse tipo de sistema protege edifícios, antenas, instalações industriais, tanques, tubulações e pessoas contra os efeitos das descargas elétricas”, completa Starck.
Para proteger os eletrodomésticos, o engenheiro eletricista recomenda instalar dispositivos de proteção contra surtos, conhecidos como DPS. “Esses equipamentos evitam que a energia elétrica induzida por raios na rede danifique aparelhos eletrônicos, elevando a segurança da casa ou do apartamento.”
Mesmo assim, o especialista explica que, quando começa a chover forte, com raios e trovões, é importante tirar os eletrônicos da tomada para evitar que geladeiras, televisores e outros equipamentos sejam queimados caso a descarga elétrica caia nas proximidades.
Saiba mais
A formação dos raios é favorecida por condições de calor e umidade elevadas, que intensificam a convecção atmosférica e originam as nuvens cumulonimbus, típicas de tempestades. Dentro delas, o atrito entre partículas de gelo e água provoca a separação de cargas elétricas, o que resulta nas descargas entre nuvens e entre as nuvens e o solo. O fenômeno é ainda mais frequente porque o Brasil está localizado na zona tropical do planeta, região central onde o clima quente e úmido cria o ambiente ideal para a formação de tempestades, especialmente durante o verão.
Cuidados na chuva
Antes:
* Procure abrigo em locais altos e secos;
* Coloque documentos e objetos de valor em sacos plásticos e em local protegido;
* Coloque em lugares altos seus móveis e utensílios (bem protegidos);
* Retire os animais de estimação da casa;
* Desligue aparelhos elétricos, quadro geral de energia e feche o registro de entrada d’água;
* Retire todo o lixo e leve para áreas não sujeitas a enchentes;
* Feche bem as portas e janelas.
Durante:
* Salve e proteja sua vida, a de seus familiares e amigos. Se precisar retirar algo de sua casa, peça ajuda aos órgãos competentes;
* Não volte para casa até as águas baixarem e o caminho estar seguro;
* Evite contato com as águas da enchente: elas estão contaminadas e podem provocar doenças e acidentes;
* Só entre na água se for absolutamente necessário. Proteja-se com calçados e botas;
* Não ingira alimentos que tiveram contato com as águas da enchente.
Depois:
* Tenha cuidado: veja se sua casa não corre o risco de desabar;
* Raspe toda a lama e o lixo do chão, das paredes, dos móveis e utensílios;
* Lave e desinfete os objetos que tiveram contato com as águas da enchente;
* Cuidado com aranhas, cobras e ratos, ao movimentar objetos, móveis e utensílios;
* Retire todo o lixo da casa e do quintal e coloque para a limpeza pública;
* Não use água de fontes naturais e poços depois da enchente, pois estão contaminadas.
*Estagiária sob a supervisão de Eduardo Pinho
Colaborou: Ana Carolina Alves